As teorias reencarnacionistas na cultura oriental


Vida, Morte e Renascimento no Hinduísmo
 As reflexões sobre morte e sobrevivência espiritual são recorrentes no pensamento-religioso antigo e contemporâneo. Na Índia, as mais antigas formas de reflexão sobre o tema encontram-se nos Vedas, literalmente “conhecimento”, um conjunto de textos que fundamentam e oficializam a tradição hindu.
Em torno destes textos desenvolveram e agruparam-se, religiões, crenças, filosofias e éticas, normas e condutas de vida que constituem uma herança completa de orientações práticas e teóricas. Este legado apresentando-se paradoxalmente polimorfo e único épelos ocidentais conhecido como Hinduísmo, mas para os hindus é SanatanaDharma, ou a Ordem Eterna. Dharma é a ordem que mantém o mundo, expressando-se como Verdade, Justiça e Conduta sustenta, dá força e coesão a todos os níveis da vida universal.
Na sociedade hindu, a individualidade é construída em prol da coletividade. Existem etapas que devem ser cumpridas pelo indivíduo no decorrer de suas vidas pessoais e cada uma delas, por sua vez, contém seus respectivos objetivos a serem alcançados. A responsabilidade de cada um e de todos de maneira geral, expressa o cuidadona manutenção de um cosmos organizado, cujo eixo ontológicoé Brahman, de onde tudo provém, causa incausada de todas as outras causas e seus efeitos. No ser humano, respiracomo Atman (Espírito).
Em todas as etapas destes caminhos mundanos, a felicidadeé efêmera e transitória. A verdadeira felicidade somente será alcançada através de moksha (libertação) e nisto constitui-se a última etapa a ser vivenciada pelo indivíduo. Ser livre em vida representa, portanto, o cumprimento dos deveres no plano social, em primeiro lugar, para depois e somente então desapegar-se, ou seja, não ser mais possuído pelos objetos do mundo e conseguir a libertação.
Estar no mundo sem negá-lo e abandoná-lo sem ter sido possuído por ele é uma proposta original do Hinduísmo. Os conceitos de Dharma e Moksha fundamentam a estrutura em torno da qual se projetamas milenares experiências e insights dos homens sábios, santos e profetas. É desse modo que a diversidade dos movimentos culturais da Índia milenar são expressões históricas de seus interlocutores, mas cada um deles é a projeção da mentalidade de um povo que incide no cristal da mente reflexiva pessoal, debruçada sobre novos tempos, com outras expectativas e necessidades, vivenciando experiências de diferentes momentos e ainda assim, partindo do solo comum de sua cultura ancestral.

A conduta correta evitará o acúmulo de karma que aprisiona o Atman (Espírito) na matéria, em uma prisão construída no emaranhado psíquico-físico dos anseios do ego, fazendo-o perambular indefinidamente pelo Samsara (perambular), nos ciclos de nascimento, morte e renascimento, preso às leis de causa e efeito. As possibilidades de transmigrações são infinitas nos universos de criação material, podendo acontecer em qualquer tipo de corpo, espécie, havendo evolução ou involução.
Vale acrescentar o fato de que o Hinduísmo não possui uma instituição dirigente, mas ao contrário, lega ao próprio indivíduo a responsabilidade do seu destino, como auto-consciência e Espírito.
Observar detalhes e particularidades do pensamento filosófico e religioso hindu é uma oportunidade única e interessante. No circuito alternado de suas convergências e divergências, a verdade é uma só, embora os sábios lhe deem vários nomes.


Araci Negreiros Araújo
 Professora de Filosofia e Cultura hindu no Curso para Formação de Professores de Yoga na Humaniversidade em São Paulo. Proprietária do Shantiniketan, Escola de Yoga e Centro divulgador da cultura hindu em Santos.
Licenciatura Plena em Filosofia pela UniSantos, defendendo a tese sobre filosofia hindu: “A Filosofia Sâmkhya como Processo de Conhecimento”.
Participação no Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia, realizado em 1998, no Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, apresentando a comunicação “A Filosofia Sâmkhya como Processo de Conhecimento”.
Curso de especialização para professores de Yoga na Faculdade de Educação Física da UniFMU, São Paulo.
Pós-Graduação em Yoga na UniFMU defendendo a tese “Sâmkhya, uma Pesquisa Conceitual em suas Origens e no seu Desenvolvimento”.
Coordenadora do Projeto Café Filosófico promovido pelo Centro Cultural e de Estudos SuperioresAúthosPagano da Secretaria de Estado e de Cultura do Governo de São Paulo, realizado no decorrer dos anos de 2001 e 2002.
Autora do livro “A Filosofia Sâmkhya” publicado pelas Edições GRD, São Paulo.

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