Personalidade Espírita do Ceará
JÚLIO BARBOSA MACIEL
Júlio Barbosa Maciel nasceu em 28 de abril de 18 88, na
cidade de Baturité, Ceará. Transferiu-se para Fortaleza, onde estudou no Colégio Colombo e no
Liceu do Ceará. Era irmão
do advogado e político Godofredo
Maciel[1].
Bacharelou-se
em Direito, pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, em 1920.
Localização de Baturité no Ceará
Faculdade de Direito do Rio de Janeiro[2]
O MAGISTRADO
Retornando ao Ceará exerceu o cargo de
Promotor Público em Senador Pompeu, Quixeramobim, Baturité e Crato. Atuou como Juiz
Municipal nas cidades de Caririaçu e Cedro. Foi Juiz de Direito no Icó, Assaré,
Granja e Russas.
A FAMÍLIA
Contraiu matrimônio, em Quixeramobim, com Nabirra
Acário Maciel, nascendo desse consórcio os filhos: Miriã, Moacir e Clóvis.
O POETA
Poeta de feições parnasianas com notas simbolistas.
Foi um dos mais festejados poeta cearense, cantou
as praias os sertões e as serras. Adotou o pseudônimo de Lúcio Várzea.
Como poeta, começa cedo Júlio
Maciel a lidar com os versos, publicando seus sonetos nas revistas 31 de Agosto
e Fortaleza, isso quando andava ainda pelos quinze anos de idade, em 1902.
Ainda colabora noutra revista de Joaquim Pimenta, Terra da Luz, em 1908. Os
poemas reunidos, em livro de estreia, só sairiam em 1918, Terra Mártir. No dizer de Otacílio de Azevedo, apresentava
“pureza de linguagem, metrificação perfeita, profundo sentimento”, o que fazia
dos seus sonetos “uma peça de arte de fino lavor literário”. Terra Mártir, seu
primeiro livro de poesias, foi prefaciado por Emílio de Menezes. A segunda
edição foi publicada em 1937.
Em 1925, o jornalista Demócrito Rocha, fundador do Jornal O Povo,
surgiu com a ideia de laurear o melhor dentre os poetas vivos do Estado. Promoveu
o concurso cujo título foi “O Princípe dos Poetas Cearenses” aos quais
concorreram nomes como Antônio Sales, Júlio
Maciel, Cruz Filho e outros grandes poetas, porém, o escolhido fora o
Padre Antônio Tomás.
Demócrito Rocha
O segundo livro só virá em 1943, Poemas da Solidão. Obra poética que destacam dois extraordinários sonetos de Júlio Maciel, Jacarecanga e Verde, em que o poeta, com dicção forte e pessoal, exalta o passado histórico do Ceará e o verde na "ressurreição do Sertão rudo". Para o crítico e também poeta Sânzio de Azevedo, o segundo soneto citado é "um dos mais belos de toda a poesia cearense", pelo apuro formal, pelo lirismo, e que poderá ser lido daqui a vinte anos "com o mesmo prazer estético, sem o ranço que costumam criar as ortodoxias".
Outras obras: Os versos de ouro de Pitágoras, 1925;
2ª ed. 1956; Poemas da solidão, 1943; e O ABC do padre Cícero, 1944. Em Poemas
Reunidos, de 1986, toda a sua obra foi republicada.
Ingressou na Academia Cearense de Letras por
ocasião da primeira reorganização, em 8 de setembro de 19 22, ocupando a cadeira 38.
Em decorrência das reorganizações sofridas pela ACL
em 1930 e 1951, ocupou, respectivamente, as cadeiras 24 e 28, cujo patrono é
Mario da Silveira.
Academia Cearense de
Letras em 08/09/1922, no salão nobre do Clube Iracema, no 1° andar do Palecete Ceará, na praça do Ferreira - Arquivo Nirez
Em pé da esquerda: José Lino da Justa, Quintino Cunha, Francisco Prado, Cruz Filho, Thomaz Pompeu, Fernandes Távora, Alba Valdez, Álvaro de Alencar, Sales Campos, Antonio Fontenele, Soares Bulcão, José Sombra, Andrade Furtado, Raimundo Ribeiro, Otavio Lobo, Cursino Belem, Beni Carvalho, Carlos Câmara e Júlio Ibiapina. Sentados esquerda: Antônio Teodorico da Costa, Antônio Augusto de Vasconcelos, Raimundo de Arruda, Thomaz Pompeu, Justiniano de Serpa, Guilherme Studart (Barão), Leonardo Mota e Alf. Castro.
POESIAS
Em pé da esquerda: José Lino da Justa, Quintino Cunha, Francisco Prado, Cruz Filho, Thomaz Pompeu, Fernandes Távora, Alba Valdez, Álvaro de Alencar, Sales Campos, Antonio Fontenele, Soares Bulcão, José Sombra, Andrade Furtado, Raimundo Ribeiro, Otavio Lobo, Cursino Belem, Beni Carvalho, Carlos Câmara e Júlio Ibiapina. Sentados esquerda: Antônio Teodorico da Costa, Antônio Augusto de Vasconcelos, Raimundo de Arruda, Thomaz Pompeu, Justiniano de Serpa, Guilherme Studart (Barão), Leonardo Mota e Alf. Castro.
POESIAS
JUAZEIRO
É no
Sertão do Norte. Às águas de janeiro
O verde o
prado arreia e ao monte veste a espalda;
Entre as
árvores mais, vitorioso, o juazeiro
No azul
amplo dos céus a ramada desfalda...
Sem ponta
de asa, agora a amplidão é um braseiro,
A terra,
nem que fora uma fornalha, escalda:
- Só, na
planície nua, o vegetal soalheiro
Levanta
em pompa aos céu a copa de esmeralda!
E assim
faustoso e vivo, em meio à morte e o luto,
Acenando,
de longe, é promessa e carinho
Aos olhos
de quem foge acaso o Sertão bruto.
Perto,
porém, se ostenta o juazeiro, escarninho:
No alto
maciça e verde, a copa está sem fruto!
Em baixo
a sombra fresca é em rude chão de espinho!
JACARECANGA
Rebelde
e forte, aqui, outrora se implantava
A
taba indiana - aqui, onde a alma lua cheia,
Pródiga,
a derramar em cachões a luz flava,
-
Agora a estes casais a fachada clareia.
Quanta
vez trom de inúbia, entrechocar de clava
Não
vibrou pelo azul que sobre mim se arqueia!
Praia!
o tropel da tribo em correria brava
Quanta
vez não sentiste a sacudir-te a areia!
E
embora tu, Passado, a lenda antiga escondas,
Eu
sei que o amor também floriu aqui: - no treno
Da
aragem, no marulho eloqüente das ondas, -
Parece-me
inda escuto, em meio à noite clara,
-
O selvagem rumor dos beijos de Moreno
E
as falas de paixão da meiga Tabajara!
AETERNUM VALE
Tal como acaba o fausto,
o resplendor, a gala
Das manhãs de verão,
ante as brumas do inverno,
Acabe a aspiração que as
almas nos embala,
Morra este róseo ideal,
morra este sonho terno!
Nem ponderes o horror
mortal que me avassala
Ao formular, assim, o
meu adeus eterno:
Inútil, na garganta,
exaure-se-me a fala,
Sinto dentro de mim
conflagrações de inferno.
Um para o outro, debalde
Amor nos encaminha:
Mau grado ao teu querer,
pesar de meus esforços,
Não te esperances mais,
que nunca serás minha!....
Certo, ouvindo-me, estás
perplexa, estás confusa,
E a tua alma de escol,
pesando os meus remorsos,
Clemente me perdoa... Impassível me acusa!
OS GROUS
Por
sobre a serra e o vale, a tribo aventureira
Dos
grous em fuga passa a pleno firmamento,
-
Libérrima e veloz, em compacta fileira,
Alto,
a pompear ao sol o plumacho opulento.
Súbito,
o vale e a serra atroa arma traiçoeira,
E,
qual se a elas movera humano entendimento,
Eis
as aves sustém infeliz companheira,
Que
no ar rodou, fechado o remígio sangrento!
E
enquanto um caçador, a carabina em pouso,
Faiscantes,
presos no ar, os olhos como brasas,
A
sua opima caça, abaixo, aguarda, ansioso,
Alto,
a pompear ao sol, lá vão os grous em bando,
Irmanados
lá vão! Nas protetoras asas,
Espaço
acima - o grou moribundo levando!
Em:
Fortaleza, ano 1,
n. 12, out. 1907.
VOLTAS
Eu sinto, só pelos modos
E os olhos com que me olhais,
Que vos não pertenceis mais .
Se os vossos encantos todos
Já são de outro, infeliz hora
Essa em que vos vil . . . Senhora,
Puseste meus olhos doudos!
Não quero ver desmanchada
A trama de ouro e de luz
Que o coração vos seduz:
De vós não espero nada...
Mas tendes tão lindo rosto!
ou. de gosto, ou contragosto,
- Sereis por mim
contemplada.
VERDE
Há uma ressurreição no Sertão rudo.
Uma ressurreição! Verde e risonho
É o vale, verde a serra, é verde tudo
Em que os meus olhos, deslumbrado, ponho.
Bruto alcantil de aspecto mau, desnudo
Esvão de terra, ríspido e tristonho,
Agora têm branduras de veludo,
Verdes agora os vejo, como em sonho!
Em cisma, a sós, contemplo verde liana,
Verde, tão verde, com carícia humana
As ruínas afagando a uma tapera.
E na contemplação que me não cansa,
Sinto quão doce és tu, cor da Esperança,
- Até nos olhos de
quem nada espera...
A VOZ DO CORAÇÃO...
Bateu-me o coração, e repentino
Baixei os olhos, quando vi alguém...
Reservou-me o Destino
Essa hora má.
Oh! foi como se eu visse todo o Bem
Que devia ser meu e não será!
Bateu-me o coração, endolorido,
Como se eu visse o meu Ideal perdido...
Felicidade,
Vão-se os dias em número infinito,
Horas de oiro da minha mocidade,
Noites e noites uma eternidade;
E, nesta ansiedade,
Por ti clamo e grito:
- Surge, aparece, vem, felicidade!
Tocado de mortal desesperança.
Grito e clamo na minha solidão:
Quem te espera, ó ventura, em vão se cansa,
Felicidade, não existes, não.
E o Coração responde amargurado,
Meu Coração amargamente triste:
- Nunca serás feliz, ó
desgraçado,
Mas a felicidade bem que existe!
(Júlio Maciel. Terra Mártir. Rio de Janeiro,
Tip. Rev. dos Tribunais, 1918, pp. 23, 26, 74. Sales Campos. Op. cit., p. 166.
Terra Mártir, p. 68, 24. Poemas da Solidão. Rio de Janeiro).
O ESPÍRITA
Assim nos relata o historiador e espírita Luciano
Klein Filho[3] a
conversão do ateu ao grande e destemido bandeirante espírita do interior do
Ceará:
“Nos idos de 1921, recém-formado, foi convidado
pelo amigo e compadre Júlio de Oliveira a exercer o cargo de Delegado de
Polícia na cidade de Miranda, no Mato Grosso. Nesse tempo declarava-se ateu, o
que causava imenso desgosto à sua mãe e à irmã Honorina, católicas fervorosas.
Ao assumir a delegacia, foi advertido de que na cidade havia um indivíduo, de
conhecida família, que costumeiramente, após ingestão de bebida alcoólica,
causava desordem e anarquia. Certa feita, Júlio Maciel, cumprindo com suas
obrigações de homem da lei, mandou um destacamento policial efetuar a prisão do
desordeiro, tendo este, porém, recebido a polícia a bala, provocando um
tiroteio que acabou por matá-lo.
Anos depois, entre 1936 e 1937, já como Juiz de
Direito na cidade de Icó, recebeu a visita do seu cunhado Nagib Acário, que foi
passar uma temporada em sua residência. Nagib, médium de muitas possibilidades,
juntamente com alguns amigos, costumava promover “sessões do copo”, acontecendo
também, com frequência, alguns transes mediúnicos. Numa dessas reuniões, o
nosso biografado, por curiosidade, fez-se presente. De súbito, uma entidade
espiritual manifestou-se através do médium, fazendo severas acusações a um dos
participantes, afirmando que ali se encontrava a pessoa que o havia mandado
assassinar; e concluiu dizendo que essa pessoa era o delegado de polícia da
cidade onde ocorreu o fato. Júlio, perplexo com o que ouvira (pois nunca
contara o ocorrido na cidade de Miranda a ninguém, nem mesmo aos familiares),
protestou veementemente contra aquela acusação inverídica. Acalmados os ânimos,
doutrinado o espírito sofredor, Júlio Maciel relatou o acontecimento fatídico
como realmente se deu. A partir de então, dispôs-se a estudar a doutrina
sistematizada por Allan Kardec, tornando-se um dos baluartes do Espiritismo no
Ceará.
NO ICÓ
Em fevereiro de 1940, quando residia em Icó, Dr. Júlio Maciel, foi
designado pela Confederação Espírita Cearense – CEC como sócio correspondente
assegurando a comunicação com as atividades espíritas na cidade de Icó. Organizou um grupo de estudos o qual no
dia 14 de setembro
de 19 43, se transforma no Centro Espírita Ubaldo Tonar. Júlio
Maciel mantém correspondência com a CEC, presidida por Manoel Coelho da Silva.
O CE Ubaldo Tonar era possuidor de sede própria e de uma escola noturna para
alfabetização de crianças e adultos, tendo como professores sua esposa, a filha
Miriã e o filho mais velho.
Manoel Coelho da Silva
O PADRE JOSÉ TERCEIRO
Em 1943 quando Júlio Maciel
ainda se encontrava em Icó, Dom Aureliano Matos transferiu o Padre José
Terceiro de Sousa para a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, no Município de
Russas, região do Baixo Jaguaribe. Em breve a Igreja Católica através do Padre
Terceiro travaria um insano combate ao incipiente centro espírita que estava
preste a nascer em 1948.
Padre José Terceiro de Sousa
Apoiado de amigos maçons, Júlio Maciel funda na sua própria casa, o
Centro Espírita Rodolpho Theófilo, na noite de 10 de janeiro de 19 48, era a primeira
instituição espírita da cidade de Russas.
Um pouco antes de
iniciar o ato inaugurativo da associação, o padre incitou da casa paraquial um
mangote de fanáticos a se deslocarem até à frente do Centro para apedrejá-lo,
afirmando tratar-se de uma casa satânica. Leia mais sobre este episódio na ótica da imprensa local no próximo artigo intitulado A Conturbada fundação do Centro Espírita Rodolpho Théofilo.
Júlio Barbosa Maciel, regressou ao Mundo Maior, no dia
[1]
Godofredo Maciel é nome dado a importante avenida de Fortaleza que liga bairros
da cidade como Parangaba, Maraponga e Mondubim.
[2] A atual Faculdade de Direito é resultado da fusão, em 1920, das duas escolas de direito existentes à época, na então capital da república, a cidade do Rio de Janeiro. A primeira e maior escola, denominada Faculdade Livre de Sciencias Jurídicas e Sociaes do Rio de Janeiro (ou Faculdade Livre de Ciéncias Jurídicas e Sociaes do Rio de Janeiro), foi fundada em 18 de abril de 1882, mas somente foi autorizada a funcionar em 1891. A segunda escola, denominada Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro, foi fundada em 1891. As duas escolas foram criadas por professores que oscilavam entre correntes progressistas e conservadoras, republicanas e monarquistas, formados em São Paulo, Recife e Coimbra. Sua unificação só foi possível quase trinta anos após a fundação das escolas, em razão dos problemas políticos. Com a fusão em 1920, foi instituída a Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, transformada em 1937 na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil. Em 1967 o governo militar alterou sua denominação para a atual, embora ainda seja possível utilizar a denominação Faculdade Nacional de Direito.
[3] Memórias do Espiritismo no Ceará. Luciano Klein Filho. 2001. Pág. 84.
[3] Memórias do Espiritismo no Ceará. Luciano Klein Filho. 2001. Pág. 84.
CRÉDITOS:
Pesquisa elaborada por: André Luiz Bezerra Borges dos Santos
Créditos das imagens:
Arquivo Pessoal
Memórias do Espiritismo, Luciano Klein Filho
Comentários
Postar um comentário