Trechos de obras enfocando o lançamento "O Livro dos Espíritos" no ano de 1857 em Paris.
No dia 17 de abril
de 1857, Zéfiro também se manifestou pelas mãos de Caroline Baudin. Desta vez,
seu tom era bem mais sóbrio e comedido:
— Não te deixas
arrastar pelos entusiastas, nem pelos muito apressados. Mede todos os teus
passos, a fim de chegares ao fim com segurança. Não creias em mais do que
aquilo que vejas; não desvies a atenção de tudo o que te pareça incompreensível.
A mensagem poderia
ter sido assinada pelo Espírito da Verdade, inclusive pelas revelações
seguintes, nada animadoras:
— Mas, ah!, a
verdade não será conhecida de todos, nem crida, senão daqui a muito tempo!
Nessa existência não verás mais do que a aurora do êxito da tua obra. Terás que
voltar, reencarnado noutro corpo, para completar o que houveres começado (...).
Rivail foi em
frente.
Na manhã de 18 de
abril de 1857, 1.500 exemplares da obra começaram a ser vendidos em Paris, com
a chancela do editor Pierre-Paul Didier, por 3 francos cada um. Em dois meses —
para surpresa de Rivail, ou melhor, de Allan Kardec —, a primeira tiragem já estava
esgotada.
Os espectadores
dos fenômenos das mesas girantes e dos cestos escreventes, ou mesmo os críticos
de diversões ou ilusões fúteis como aquelas, encontraram nas páginas do livro
perguntas e respostas desconcertantes, divididas em três partes: “Doutrina espírita”
(com dez capítulos), “Leis morais” (onze capítulos) e “Esperanças e
consolações” (três capítulos).
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O
LIVRO DOS ESPÍRITOS E SUA TRADIÇÃO HISTÓRICA E LENDÁRIA – Canuto Abreu
QUANDO OS ÚLTIMOS CONVIDADOS PARTIRAM, após
onze horas, Gabi apagou as luzes do apartamento e recolheu-se logo ao leito,
deixando RIVAIL no escritório, sentado à escrivaninha de carvalho, sob a luz
bruxuleante duma vela. Ele apanhou um caderno, já em parte escriturado e com o
título ‘Memórias’ e principiou a escrever: “Hoje, finalmente, 18 de abril de
1857, posso dizer que lancei a público o trabalho mais importante de minha vida
pelo enorme benefício que, certamente, espalhará. E isto devo...” Susteve a
pena por instante e, tirando da gaveta central um dossiê de couro marrom,
bojudo de papéis escritos, desatou-o e foi rebuscando entre folhas soltas a
comunicação que lhe viera à lembrança ao escrever ‘devo’. Tinha esta nota à
margem: “De ZÉPHIR, em 5 de janeiro de 1857, data em que entreguei o manuscrito
d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS a Madame DENTU”. Evocando, mentalmente, o Espírito
amigo que lhe dera, continuou a escrever após a palavra devo:
“... Em primeiro lugar a ti, caro Amigo,
prezado Companheiro de outrora. Quero deixar aqui transcritas, em destaque, as
tuas palavras”:
“Mas qual! A VERDADE não será conhecida tão
cedo, nem acreditada pela maioria antes que decorram muitos anos”.
“Você não verá nesta existência senão a
aurora do sucesso desta obra”.
“Terá que voltar à Terra, reencarnado
‘noutro corpo’, para completar o que está apenas começando a fazer”.
“Só então verá em plena messe os primeiros
frutos da sementeira que O LIVRO DOS ESPÍRITOS vai espalhar pelo Mundo”.
“Agora Você terá somente invejosos e
competidores que procurarão denegri-lo e contradizê-lo. Não se desencoraje
porém! Nem se inquiete com o que disserem ou fizerem contra! Prossiga na
tarefa! Continue incessantemente a trabalhar pelo progresso da Humanidade!”
“Enquanto perseverar na via do Bem, onde
entrou, Você será sustentado fortemente pelos Espíritos bondosos e servos d’A
VERDADE”.
“No começo do ano passado, prometi minha
amizade aos que durante o curso dos Ensinos se portassem convenientemente em
todas as circunstâncias. O ano acaba de findar. Quero cumprir a minha promessa,
anunciando-lhe: “Você foi o escolhido”.
*
RIVAIL apôs, em seguida, estas palavras:
Obrigado ainda uma vez caro Amigo. Não fiz
mais do que o dever para ser digno de sua estima e da confiança de meu Guia. Se
agi convenientemente, devo-lhe muito, prezado Irmão. Você guiou-me nos
primeiros passos. Trouxe-me os primeiros instrutores. Apresentou-me ao Espírito
VERDADE. Mostrou-me algumas páginas antigas de meu passado. E agora nesta
mensagem fraternal ao fim de nosso curso, me desvenda um pouco do meu futuro.
Obrigado por tudo, mil vezes obrigado! Creio, como Você, que não viverei
bastante neste corpo já alquebrado, para ver o triunfo da verdade espírita.
Ficarei satisfeito se puder resistir, como Você me anuncia, ao desenvolvimento
germinativo da Filosofia que começamos a plantar hoje na Terra. A seara é de
uns, a colheita é de outros. Assim diz o Evangelho. Mais de cem exemplares do O
LIVRO DOS ESPÍRITOS já se foram neste primeiro dia, doados ou vendidos. Cada
volume será um grão de vida nova lançado ao coração dum homem velho. Se algumas
sementes caírem em corações ‘maduros ‘haverá, por certo, gloriosas
‘ressurreições Mil e duzentas sementes da ‘A VERDADE’ serão lançadas no terreno
da Opinião. Se uma só frondejar, nosso esforço não foi em vão. Você prometeu,
no começo das Instruções, ajudar os que se esforçam. Sabe que esforcei.
Rejubilo-me em ver que, também Você cumpriu a promessa de ‘estimar’ os que se
esforçam. Guardarei como preciosa a sua estima... Está ouvindo? O relógio soa
meia-noite. Sinto alguém alertar-me em surdida. Adeus caro Amigo!
*
RIVAIL FECHOU A PASTA DE COURO MARROM sobre
o caderno escrito e, levantando-se, ouviu uma voz:
— Até logo, Amigo!
— Até breve, respondeu ele.
E, de castiçal em punho, rumou para o leito, na ponta
dos pés, para não despertar Gabi.
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O PRIMEIRO LIVRO DOS ESPÍRITOS DE ALLAN KARDEC – Canuto Abreu
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O PRIMEIRO LIVRO DOS ESPÍRITOS DE ALLAN KARDEC – Canuto Abreu
A obra veio a público em 18 de abril de 1857, lançada no Palais Royal, em Paris, na forma de perguntas e respostas,
originalmente compreendendo 501 itens. Foi fruto dos estudos de Kardec sobre os
fenômenos das mesas girantes,
difundidos por toda a Europa em meados
do século XIX (...). Foi o primeiro de
uma série de cinco livros editados pelo pedagogo sobre o mesmo tema.
As médius que serviram a esse trabalho foram
inicialmente as jovens Caroline e Julie Boudin (respectivamente, com 16 e 14
anos à época), às quais mais tarde se juntou Celine Japhet (com 18 anos à
época) e a senhorita Ermmance Defaux (14 anos na época), que tinha como guia
espiritual São Luiz. no processo de revisão do livro. Após o primeiro esboço, o
método das perguntas e respostas foi submetido à comparação com as comunicações
obtidas por outros médiuns franceses, num total de "mais de dez",
nas palavras de Kardec, cujos textos psicografados contribuíram para a
estruturação do texto.
Segundo Canuto de Abreu, na página VII de O Primeiro Livro dos Espíritos, a
segunda edição francesa foi lançada em 18 de
março de 1860, tendo o Livro
dos Espíritos, naquela reimpressão, sido revisto quase "como trabalho
novo, embora os princípios não hajam sofrido nenhuma alteração, salvo
pequeníssimo número de exceções, que são antes complementos e esclarecimentos
que verdadeiras modificações". Para esta revisão, Kardec manteve contato com grupos espíritas
de cerca de 15 países da Europa e das Américas. Nesta segunda edição é que
aparecem 1018 perguntas e respostas, sendo que algumas edições atuais trazem
1019 perguntas,
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Li e gostei muito! Souto Maior fez uma excelente pesquisa.
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